PSV 06/2023   Foi no portão de uma escola pública. Escola de criança pequena. No meu tempo se chamava jardim da infância; agora é ensino fundamental. Parei para olhar pela grade a criançada a brincar no amplo pátio ensolarado. Maior algazarra, maior beleza. Foi quando chegou a professora apressada, cheia de pastas e sacolas. Quando as crianças a viram, acorreram todas gritando de alegria.  Todas queriam abraçá-la, e ela ficou presa no meio daquele alvoroço de amor. E cada pequeno recebeu o seu carinho. Quando ela afinal pôde entrar, trazia no rosto um sorriso de pura felicidade. Cá fora, a cena ficou enevoada para os meus olhos brandamente marejados...   La…

 PSV - jun 2023 Eu tenho um amigo polonês. Somos amigos por carta: durante os mais de trinta dias necessários para que da Polônia chegue uma carta simples ao Brasil – e vice versa – temos tempo bastante para refletir no que escrevemos e no que haveremos de escrever. A paciência nutre a amizade.  Há poucos dias recebi dele mais um envelope simpaticamente selado, contendo uma única folha de papel. Uma cartinha singela, a encher os dois lados da folha com uma caligrafia clara e bem comportada. Meu amigo é um sacerdote católico, octogenário e de sabedoria despojada: “Imagine que eu sou sozinho, mas não aprecio a solidão. Por isso…

 PSV - jun 2023 Eu tenho um amigo polonês. Somos amigos por carta: durante os mais de trinta dias necessários para que da Polônia chegue uma carta simples ao Brasil – e vice versa – temos tempo bastante para refletir no que escrevemos e no que haveremos de escrever. A paciência nutre a amizade.  Há poucos dias recebi dele mais um envelope simpaticamente selado, contendo uma única folha de papel. Uma cartinha singela, a encher os dois lados da folha com uma caligrafia clara e bem comportada. Meu amigo é um sacerdote católico, octogenário e de sabedoria despojada: “Imagine que eu sou sozinho, mas não aprecio a solidão. Por isso…

  PSV 06/2023       Sempre, entre o homem e o gato,     um dilema permanece:     quem é que manda, de fato,     e quem é que obedece?       Ekzistas dilema vanto     inter la homo kaj kato:     kiu estas obeanto?     kiu estas obeato?  

  PSV 06/2023       Sempre, entre o homem e o gato,     um dilema permanece:     quem é que manda, de fato,     e quem é que obedece?       Ekzistas dilema vanto     inter la homo kaj kato:     kiu estas obeanto?     kiu estas obeato?  

  PSV - 2027   Em domingo de sol e azul, torna-se quase obrigatório um passeio no parque. A bicicleta corre feliz ao longo do breve percurso. Um bom livro vem junto. Tomo assento num banco, sob o sol tépido de meia estação, rodeado de árvores calmas e pensativas. Quase não há vento, apenas um leve aceno de felicidade. Começo a ler, e a intriga é cheia de vida, de frases bem construídas, de sutilezas psicológicas. A luz do sol bate em cheio nas páginas bem impressas. Aos poucos, um ruído leve desvia meu olhar. É um pai a chutar bola com o filho. O menininho, de seus cinco anos, talentoso futebolista,…

  PSV - 2027   Em domingo de sol e azul, torna-se quase obrigatório um passeio no parque. A bicicleta corre feliz ao longo do breve percurso. Um bom livro vem junto. Tomo assento num banco, sob o sol tépido de meia estação, rodeado de árvores calmas e pensativas. Quase não há vento, apenas um leve aceno de felicidade. Começo a ler, e a intriga é cheia de vida, de frases bem construídas, de sutilezas psicológicas. A luz do sol bate em cheio nas páginas bem impressas. Aos poucos, um ruído leve desvia meu olhar. É um pai a chutar bola com o filho. O menininho, de seus cinco anos, talentoso futebolista,…

  Chegou a casa à noite, depois de um dia cheio de afazeres inúteis. Quando abriu o cadeado do portão, ouviu um grito desesperado, pavorosamente sonoro e longo, a chamá-lo pelo nome. Aquilo fendeu o oco da noite com uma espantosa violência imaterial. Ele se virou. A rua estava deserta, nenhum vizinho à porta, nenhum canto onde alguém pudesse esconder-se, nenhuma janela acesa. O vazio. O asfalto e a amendoeira dormiam placidamente. Entrou e foi buscar o quadro de Munch. Nunca o compreendera tão bem.     krio   Li alvenis hejmen vespere, post tago plena de senutilaj aferoj. Kiam li malfermis la pendseruron de la ferpordo, li ekaŭdis furiozan krion,…

  Chegou a casa à noite, depois de um dia cheio de afazeres inúteis. Quando abriu o cadeado do portão, ouviu um grito desesperado, pavorosamente sonoro e longo, a chamá-lo pelo nome. Aquilo fendeu o oco da noite com uma espantosa violência imaterial. Ele se virou. A rua estava deserta, nenhum vizinho à porta, nenhum canto onde alguém pudesse esconder-se, nenhuma janela acesa. O vazio. O asfalto e a amendoeira dormiam placidamente. Entrou e foi buscar o quadro de Munch. Nunca o compreendera tão bem.     krio   Li alvenis hejmen vespere, post tago plena de senutilaj aferoj. Kiam li malfermis la pendseruron de la ferpordo, li ekaŭdis furiozan krion,…

 PSV maio2023   Colhe o verso enquanto ele paira, ao alcance. Toma-o teu com as mãos nuas, lavadas, guarda-o na algibeira da alma para o justo momento em que a vida to pedir. Não o deixes à deriva, como fazes com os dias, não o ponhas de lado, nem te distraias dele como dos crepúsculos de outono.  O verso te será cobrado no diâmetro das tuas pupilas, na largura da tua respiração, no comprimento dos teus passos. Cuida do verso como de um infante frágil, um copo d’ água, uma carícia na face. Verso e vida, vida, verso, um.   Kaptu la verson dum ĝi ŝvebas atingebla. Prenu ĝin via per…