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Terapia transpessoal: caminhos para o bem-estar diante da angústia contemporânea

 

Create an illustration that captures the theme of transpersonal therapy and its pathways to well-being amidst contemporary anguish. The illustration should reflect the multifactorial nature of existential anguish, including feelings of emptiness, fatigue, and loss of appetite. Incorporate elements that represent the integration of spiritual and transcendental aspects with traditional psychology methods. Use symbols from various spiritual traditions such as Buddhism, Hinduism, Sufism, and Jungian psychology. Include visual representations of meditation, mindfulness, holotropic breathing, guided visualization, dream work, and the dynamic energy of the psyche. The mood should be contemplative and hopeful, with colors that evoke calmness and introspection. The style should be holistic and multidimensional, emphasizing the connection between body, mind, and spirit. Consider using soft, flowing lines and harmonious color palettes to convey the delicate nature of mental health and the compassionate approach of transpersonal therapy.

Terapia
transpessoal
: caminhos para o bem-estar diante da angústia
contemporânea

Paulo P
Nascentes[1]

“A vida não é só
isso que se vê, é um pouco mais, que os olhos não conseguem perceber, e as mãos
não ousam tocar, e os pé recusam pisar.”
(Paulinho da
Viola. Sei lá, Mangueira)

            Angústia existencial

A
angústia difusa que acomete o sujeito contemporâneo é multifatorial e pode
estar ligada a uma falta de sentido para a vida. Isso causa um vazio indefinido,
sensação de desânimo, cansaço inexplicável, perda de apetite ou voracidade por
certos alimentos, diminuição ou exacerbação da libido. Resistente a tratamentos
medicamentosos, a peregrinação passa por consultórios médicos e prossegue nas
diferentes modalidades de terapias e psicoterapias, em tentativas de alívio muitas
vezes infrutíferas. Profissionais de saúde quer na instância pública ou privada
oferecem tratamentos por vezes regidos por protocolos mais ou menos rígidos e,
pior, sempre o mesmo para uma infinidade de sujeitos, desconsiderando assim
peculiaridades, como a forma de adoecimento de cada um. Para apimentar a
questão, fica a pergunta: como não adoecer numa sociedade ela mesma doente? Diante
de circunstâncias dolorosas, como alcançar “os mais altos fins da existência”,
usando as palavras de Hahnemann?

            É preciso consider a subjetividade
do sujeito em sua expressão única. Do contrário, como lidar com sintomatologia
tão diversa, refratária a classificações e protocolos, portanto? É preciso considerar
a multidimensionalidade da nossa manifestação. O que nos iguala, o que nos faz
tão peculiares? O tema exige um olhar mais cuidadoso, dada a delicadeza que
envolve a saúde mental. Como a abordagem transpessoal contribui com as demais
modalidades de tratamento da angústia existencial, por exemplo? Que vantagens
agrega, que limitações enfrenta? Qualquer que seja a escolha do cliente, é
fundamental a confiança no profissional e na ética dele esperada. Afinal,
cuidar não é só tratar sintomas, mas também olhar compassivamente violências como
o racismo, o machismo, os estigmas da desigualdade, a falta de meios dignos de
subsistência e demais condições que ferem o humano na sua inteireza.

A terapia transpessoal busca integrar
aspectos espirituais e transcendentais da experiência humana com os métodos
tradicionais da psicologia. Portanto, considera o ser humano em sua totalidade,
incluindo dimensões físicas, emocionais, mentais e espirituais.

Bases Teóricas

Suas bases teóricas assentam-se em
diversas tradições espirituais e filosóficas, como o budismo, hinduísmo,
sufismo e a psicologia junguiana. Ela também incorpora conceitos da psicologia
humanista e existencial, além de teorias de desenvolvimento espiritual e
estados alterados de consciência. Ken Wilber (2007, 2016) é um de seus teóricos
mais conhecidos, ao delinear a integração da ciência e da espiritualidade. Vale
lembrar que “o processo de individuação conduz o sujeito a ser quem de fato ele
é pela integração da sombra e dos demais aspectos inconscientes. Longe de ser uma
forma de individualismo egoísta, a pessoa se torna mais atenta e cuidadosa com
o semelhante” Nascentes, P (2023) in: Wunderlich, M. e Andréia Roma
(2023).

Tipologia

Dentre as várias abordagens da terapia
transpessoal, destacam-se:

  • Meditação
    e Mindfulness
    :
    Técnicas que promovem a consciência plena e a conexão com o momento
    presente. Sofrimento por antecipação caracteriza a ansiedade. A conexão
    com o presente, pela consciência na respiração, por exemplo, costuma
    aliviar diversos sintomas.
  • Respiração
    Holotrópica
    :
    Método que utiliza padrões de respiração para acessar estados alterados de
    consciência. Esse tipo de respiração só deve ser feito sob a orientação de
    um especialista que a tenha vivenciado ele mesmo.
  • Visualização
    Guiada
    : Uso de
    imagens mentais para explorar e transformar aspectos internos. C.G. Jung usava
    a imaginação criativa com seus pacientes.
  • Trabalho
    com Sonhos
    :
    Análise de sonhos, sem interpretá-los, permite acessar o inconsciente e
    promover a integração de conteúdos internos. Antes de qualquer análise,
    porém, muito se consegue nas sessões de arteterapia. Os símbolos presentes
    nos desenhos, no uso de cores em pinturas tendem a facilitar e enriquecer
    o diálogo terapêutico.
  • Dinâmica
    Energética do Psiquismo
    :
    Desenvolvida por Theda Basso e Aidda Pustilnik (2012), a Metodologia da Dinâmica
    Energética do Psiquismo (DEP) enfatiza a consciência no corpo pela
    respiração e movimentos corporais conscientes, para proporcionar o
    desbloqueio de impregnações e crenças nos campos pessoal, familiar, social
    e cultural. Isso permite a Percepção flutuante e a Escuta do Silêncio, instância
    onde reside o Ser essencial. Outros recursos são a Meditação com a Espiral
    do Desenvolvimento e com os Campos informacionais expressos pelos
    triângulos ascendentes e descendentes. Ao final de um percurso de 20 passos,
    o estudante se torna apto a atingir e sustentar o estado de Presença no
    Ser essencial.

Pontos Positivos

  • Integração
    Holística
    : Ao considerar
    o ser humano em sua totalidade, promove um equilíbrio entre corpo, mente e
    espírito. É como se essas instâncias do sujeito passassem a dialogar entre
    si mediadas pelo terapeuta, que o conduzirá ao Terapeuta Interno.
  • Desenvolvimento
    Espiritual
    :
    Facilita o crescimento espiritual e a conexão com aspectos transcendentais
    da existência. No caso do Percurso Básico da DEP esse crescimento é
    acompanhado em sessões periódicas com um terapeuta graduado pela Escola
    DEP.
  • Flexibilidade: Pode ser adaptada às necessidades
    individuais, utilizando uma variedade de técnicas e abordagens, incluindo
    o registro das vivências e sensações percebidas no corpo em desenhos
    espontâneos ou cartografias apropriadas.

Limitações

  • Aceitação: Pode enfrentar resistência de
    pessoas que têm uma visão mais tradicional da psicologia e da ciência.
    Essa resistência poderá ou não ser atenuada conforme se sucedem as
    primeiras classes mensais e o acompanhamento em pequenos grupos.
  • Evidências
    Científicas
    :
    Embora haja estudos que apoiem a eficácia de algumas técnicas
    transpessoais, ainda há necessidade de mais pesquisas para validar seus
    benefícios de forma ampla. Por isso mesmo, a Metodologia DEP conta com Grupos
    de Estudo e Pesquisa, com publicações frequentes de trabalhos acadêmicos.
  • Complexidade: A integração de aspectos
    espirituais pode ser complexa e desafiadora, exigindo um alto nível de
    sensibilidade e competência por parte do terapeuta. Afinal, o Eu pessoal desenvolve
    ao longo da vida estratégias bastante hábeis de sobrevivência. Será
    necessário trabalhar a tensão entre a permanência e a transcendência, pela
    promoção do diálogo simbólico entre as diferentes instâncias da psique.

Conclusão

A liberdade de escolha da abordagem,
metodologia, técnicas terapêuticas é um direito inalienável do cliente, que
precisa ser acolhido pelo terapeuta com, mais que cortesia e atenção, uma atitude
amorosa, prestadia, fornecendo todas as informações úteis para uma decisão a
mais acertada possível e que atenda caso a caso. Essa atitude poderá gerar confiança
mútua e minimizar episódios de transferência e contratransferência, tão comuns
especialmente nas sessões iniciais. Tudo será esclarecido e negociado com o
cliente, de forma a que tanto o cliente quanto o terapeuta acessem sua
inteireza para que qualquer escolha se baseie não só em informações objetivas, como
local, preço, modalidades de pagamento, número de sessões no mês, mas também
nos indicativos das subjetividades envolvidas no contrato terapêutico e a
garantia de sigilo e ética.

Uma vez iniciada a terapia, convém que
de temos em tempos uma ou mais sessões sejam destinadas à autoavaliação e à
avaliação do processo em curso, pois isso possibilitará manutenção ou suspensão
de procedimentos que, ainda que eficazes em muitos casos, não se adequam àquela
individualidade do cliente ou às restrições do próprio terapeuta, que poderá
encaminhar o cliente a algum colega ou a outro tipo de terapia mais indicado.
Esse reajuste de rumos, se for o caso, preservará clientes e terapeuta de eventuais
situações por vezes incontornáveis, pois a natureza do humano é imprevisível,
por mais que o autoconhecimento venha de muitas décadas de treinamento e
estudo.

Referências

BASSO, Theda e Aidda Pustilnik (2012). Metodologia
da Dinâmica Energética do Psiquismo.
São Paulo: ICDEP.

___________________________ (2000). Corporificando
a consciência:
teoria e prática da Dinâmica Energética do Psiquismo. São
Paulo: ICDEP.

BASSO, Theda e Moacir Amaral (2011). Triângulos:
estruturas de compreensão do ser humano. 2 ed. São Paulo: Theba Book.

JUNG, C.G. (2017). Fundamentos da
psicologia analítica.
Trad. Araceli Elman, Edgar Orth. Petrópolis,
RJ: Vozes.

NASCENTES, Paulo P. Mentoria centrada
nos Ser:
preparação, centramento, isomorfismo. In: WUNDERLICH, Marcos &
Andréia Roma (2013). Mentoring, coaching & advice humanizado ISOR: ferramentas
holossistêmicas. São Paulo, Leader.

WILBER, Ken. (2007). A união da alma
e dos sentidos:
integrando ciência e religião.10 ed. São Paulo: Cultrix.

___________. (2016). A visão integral:
uma introdução à revolucionária abordagem integral da vida, de Deus, do
Universo e de tudo mais. 11 ed. São Paulo: Cultrix.


[1] Professor aposentado (IL/UnB),
escritor, poeta, terapeuta transpessoal com pós graduação pela DEP e arteterapeuta
pelo IJEP – Instituto Junguiano de Estudos e Pesquisa

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