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árvores
PSV - 2027 Em domingo de sol e azul, torna-se quase obrigatório um passeio no parque. A bicicleta corre feliz ao longo do breve percurso. Um bom livro vem junto. Tomo assento num banco, sob o sol tépido de meia estação, rodeado de árvores calmas e pensativas. Quase não há vento, apenas um leve aceno de felicidade. Começo a ler, e a intriga é cheia de vida, de frases bem construídas, de sutilezas psicológicas. A luz do sol bate em cheio nas páginas bem impressas. Aos poucos, um ruído leve desvia meu olhar. É um pai a chutar bola com o filho. O menininho, de seus cinco anos, talentoso futebolista,…
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PSV - 2027 Em domingo de sol e azul, torna-se quase obrigatório um passeio no parque. A bicicleta corre feliz ao longo do breve percurso. Um bom livro vem junto. Tomo assento num banco, sob o sol tépido de meia estação, rodeado de árvores calmas e pensativas. Quase não há vento, apenas um leve aceno de felicidade. Começo a ler, e a intriga é cheia de vida, de frases bem construídas, de sutilezas psicológicas. A luz do sol bate em cheio nas páginas bem impressas. Aos poucos, um ruído leve desvia meu olhar. É um pai a chutar bola com o filho. O menininho, de seus cinco anos, talentoso futebolista,…
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grito
Chegou a casa à noite, depois de um dia cheio de afazeres inúteis. Quando abriu o cadeado do portão, ouviu um grito desesperado, pavorosamente sonoro e longo, a chamá-lo pelo nome. Aquilo fendeu o oco da noite com uma espantosa violência imaterial. Ele se virou. A rua estava deserta, nenhum vizinho à porta, nenhum canto onde alguém pudesse esconder-se, nenhuma janela acesa. O vazio. O asfalto e a amendoeira dormiam placidamente. Entrou e foi buscar o quadro de Munch. Nunca o compreendera tão bem. krio Li alvenis hejmen vespere, post tago plena de senutilaj aferoj. Kiam li malfermis la pendseruron de la ferpordo, li ekaŭdis furiozan krion,…
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grito
Chegou a casa à noite, depois de um dia cheio de afazeres inúteis. Quando abriu o cadeado do portão, ouviu um grito desesperado, pavorosamente sonoro e longo, a chamá-lo pelo nome. Aquilo fendeu o oco da noite com uma espantosa violência imaterial. Ele se virou. A rua estava deserta, nenhum vizinho à porta, nenhum canto onde alguém pudesse esconder-se, nenhuma janela acesa. O vazio. O asfalto e a amendoeira dormiam placidamente. Entrou e foi buscar o quadro de Munch. Nunca o compreendera tão bem. krio Li alvenis hejmen vespere, post tago plena de senutilaj aferoj. Kiam li malfermis la pendseruron de la ferpordo, li ekaŭdis furiozan krion,…
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colhe o verso
PSV maio2023 Colhe o verso enquanto ele paira, ao alcance. Toma-o teu com as mãos nuas, lavadas, guarda-o na algibeira da alma para o justo momento em que a vida to pedir. Não o deixes à deriva, como fazes com os dias, não o ponhas de lado, nem te distraias dele como dos crepúsculos de outono. O verso te será cobrado no diâmetro das tuas pupilas, na largura da tua respiração, no comprimento dos teus passos. Cuida do verso como de um infante frágil, um copo d’ água, uma carícia na face. Verso e vida, vida, verso, um. Kaptu la verson dum ĝi ŝvebas atingebla. Prenu ĝin via per…
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colhe o verso
PSV maio2023 Colhe o verso enquanto ele paira, ao alcance. Toma-o teu com as mãos nuas, lavadas, guarda-o na algibeira da alma para o justo momento em que a vida to pedir. Não o deixes à deriva, como fazes com os dias, não o ponhas de lado, nem te distraias dele como dos crepúsculos de outono. O verso te será cobrado no diâmetro das tuas pupilas, na largura da tua respiração, no comprimento dos teus passos. Cuida do verso como de um infante frágil, um copo d’ água, uma carícia na face. Verso e vida, vida, verso, um. Kaptu la verson dum ĝi ŝvebas atingebla. Prenu ĝin via per…
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dia das mães
PSV 2019 Sua mãe padecera de uma amargura incurável. O mundo lhe soava hostil; a vida, um massacre. Cultivava um espírito crítico, sombrio e impiedoso. Educava os filhos com reprimendas cortantes e apontava as pessoas com indisfarçável suspeição. Tinha uma queda estética pela ironia e pelo pessimismo. Sabia escolher com finura a palavra ferina. Sua mãe dizia, convicta: aqui é um lugar de puro sofrimento. No entanto, deixou-lhe por herança o gosto pelo anoitecer, junto ao mar; e pelo fascínio da música de Mozart. Por isso, todos os anos, no dia das mães, ele ouve, com lágrimas nos olhos, a Lacrimosa. Tago de patrinoj Lia…
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dia das mães
PSV 2019 Sua mãe padecera de uma amargura incurável. O mundo lhe soava hostil; a vida, um massacre. Cultivava um espírito crítico, sombrio e impiedoso. Educava os filhos com reprimendas cortantes e apontava as pessoas com indisfarçável suspeição. Tinha uma queda estética pela ironia e pelo pessimismo. Sabia escolher com finura a palavra ferina. Sua mãe dizia, convicta: aqui é um lugar de puro sofrimento. No entanto, deixou-lhe por herança o gosto pelo anoitecer, junto ao mar; e pelo fascínio da música de Mozart. Por isso, todos os anos, no dia das mães, ele ouve, com lágrimas nos olhos, a Lacrimosa. Tago de patrinoj Lia…
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pessimismo
Começam a saltitar na internet vídeos atentando para o perigo de ficarmos todos muito tempo ao telefone. E tais alertas nos vêm por telefone! Alega-se que o telefone e seu conteúdo hipnótico e vulgar dominam a nossa mente e nos achatam a cognição. Deve ser verdade; aliás, verdade antiga. Schopenhauer, no século 18, fez campanha solitária e indignada do mesmo feitio. Só que deblaterava contra... livros! Na época, já proliferavam as edições que seduziam os leitores das últimas novidades. E as últimas novidades, então como agora, são quase sempre banalidades, sejam livros ou quaisquer outros veículos. E excesso de banalidade faz mal ao espírito. Fico a pensar: quem decide…
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Começam a saltitar na internet vídeos atentando para o perigo de ficarmos todos muito tempo ao telefone. E tais alertas nos vêm por telefone! Alega-se que o telefone e seu conteúdo hipnótico e vulgar dominam a nossa mente e nos achatam a cognição. Deve ser verdade; aliás, verdade antiga. Schopenhauer, no século 18, fez campanha solitária e indignada do mesmo feitio. Só que deblaterava contra... livros! Na época, já proliferavam as edições que seduziam os leitores das últimas novidades. E as últimas novidades, então como agora, são quase sempre banalidades, sejam livros ou quaisquer outros veículos. E excesso de banalidade faz mal ao espírito. Fico a pensar: quem decide…