Entrevista Veja Rio
Paulo P. Nascentes
1.
Como a arte contribui para o aprofundamento em
questões internas em um contexto social de rápidas transformações?
Ao lado da
filosofia, da ciência, das tradições espirituais, a arte é uma forma de autoconhecimento,
autodescoberta, autotransformação. Usufruir arte faz isto. Imagine então criar
arte, de acordo com sua forma de expressão favorita. Não somos os mesmos depois
de assistirmos a um grande filme, uma peça de teatro inesquecível ou contemplarmos
um quadro arrebatador. No caso da poesia o surpreendente é que palavras
corriqueira do cotidiano nos ponham em contato com a expressão do indizível. Movimentos
no campo pessoal, por ressonância, reverberam nos demais campos coletivos, como
o familiar, social, do trabalho, das amizades e assim por diante. No contexto
de rápidas transformações, por que não tirar um tempinho diário para a leitura,
a poesia, a meditação, a sintonia, enfim, com o Ser essencial?
2.
De que forma a produção artística pode auxiliar
na expressão de sentimentos?
Um pouco está
dito nas linhas precedentes. Porém, a linguagem poética, pelo poder da
polissemia é instauradora do novo, mais que qualquer outra forma de arte.
Afinal, o traço do desenhista e as cores do pintor existem para criar beleza.
No caso da poesia, o arrepio no corpo vem do inesperado do arranjo, das
imagens, das figuras de linguagem. Essa mesma linguagem presente num prosaico recibo,
num atestado médico ou de óbito. Na literatura, porém, cada leitor pode ser
tocado em vários campos ao mesmo tempo: emoções, pensamentos, sentimentos,
sensações. Quantos são os livros que nos deixam uma sensação de arrepio,
conforto, desconforto. A literatura, em especial a poesia, existe para gerar algum
estranhamento, algum desconforto e outros movimentos internos que nos fazem
pensar. Bons livros tocam leitores em diferentes aspectos? O que este livro (Rabiscos
poéticos de um sem noção) poderá despertar em você? Leia e descubra!
3.
Existem maneiras simples de exercitar a
arteterapia no dia a dia? Se sim, como?
Sim. Antes
de dormir e logo que acordar tenha em mãos lápis preto e coloridos, folhas de
papel para a escrita e alguns desenhos. O que vier de mais espontâneo e
inesperado revelará aspectos sobre nós antes velados. Como arteterapeuta fui
intuindo com meus clientes e alunos de Letras na UnB a abordagem terapêutica
Escrita Essencial. No ensino de redação, por exemplo, chamava-se Escrita no
Ritmo Pessoal e uso de letras da Música Popular Brasileira. A poesia de bons
compositores servia como estímulo emocional. Vinha logo depois da escrita
livre, como que um derramar-se sobre o papel. Na clínica de arteterapia exploramos
confissões, reminiscências, símbolos e outros aspectos desconhecidos do
sujeito, porque inconscientes. A pegada pedagógica foi se tornando terapêutica.
Quase todos os dias faço o exercício de mergulho em mim mesmo dessa forma. O
que acontece no estúdio de arteterapia é esse encontro com a nossa
multidimensionalidade, sobretudo com as nossas dimensões menos óbvias, como a
surpresa de que todos somos seres criativos. Só que alguns de nós nem sabíamos.
4.
A escrita e a leitura podem contribuir para uma
abordagem terapêutica? De que maneira?
A ideia é promover saúde mental
e ampliar a autonomia pelo autoconhecimento,
induzindo a autotransformação.
Etapas da Escrita Essencial:
Aquecimento: Respiração consciente
Escrita no Ritmo Pessoal: expressão
Estímulo Emocional: poesias e letras da MPB
Produção textual: comunicação
Roda crítica
de Beneficiamento Textual
Nossa
abordagem ajuda a desvelar o sujeito para si mesmo. Ou melhor, O Si Mesmo ou Self
se torna visível para a pessoa e o terapeuta apenas amplia os sentidos ali
presentes. O diálogo terapêutico fica facilitado e o mergulho nessa água
profunda se torna superficial. Podem vir insights surpreendentes sobre o
cotidiano (a-há!). Vem também choro misturado ao riso, outras emoções,
alguma perplexidade.
5.
Sobre seu livro “Rabiscos poéticos de um sem
noção”, como a figura de Dorvalino retrata essa busca por um sentido para a
vida por meio da literatura?
Protagonista no livro Percurso às avessas:
Dorvalino semimorre (Litteralux: 2021), a figura destrambelhada de Dorvalino
Mendes reaparece em novas peripécias no Rabiscos poéticos de um sem noção:
o avesso do percurso (Um Livro: 2024), agora com a rebeldia juvenil temperada
pela maturidade. Romance? Contos? Também as crônicas e poesias espelham a busca
do sentido para a vida. O título dos três capítulos finais representaria o
contato da personagem com um surto psicótico? Nos capítulos “Porralouquice escrevinhadora
I, II e III” a um Dorvalino atônito tudo se apresenta como fluxo do
inconsciente e irrompe forte rompendo, assim, de vez os limites de gênero literário,
enredo, tempo e ambiente da narrativa. Os rabiscos poéticos de um novo tempo testemunham
o desmoronar da dualidade em favor da Unidade, cujo nome é Amor.
Perguntas
que não querem calar: A) em que medida a arte é perigosa? B) onde posso encontrar
seus livros?
A arte é
perigosa para os que não querem sair das ilusões da dualidade, como os tiranos
e os defensores da tirania e do domínio hierárquico. Aliás, regimes ditatoriais
em todo o mundo querem bem aos artistas. Na certa querem o artista bem longe, encarcerado,
silenciado, emudecido. O livro Percurso às avessas pode ser adquirido em
(Percurso
às avessas – Editora Penalux) e os Rabiscos poéticos de um sem noção
em (Rabiscos
poéticos de um sem noção: O avesso do percurso | Amazon.com.br). Também
nas Casas Bahia, Lojas Americanas, Amazon (Rabiscos
metapoéticos de um sem noção – Acontece).